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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A PEQUENA ABOBRINHA

Naquela imensa plantação de abóboras, a excitação crescia à medida que o mês de Outubro se aproximava do final. As abóboras, muito vaidosas de se terem desenvolvido tão bem, preparavam-se afanosamente para o grande dia em que começassem a vir buscá-las para enfeitarem as casas dos meninos e comemorarem todos juntos a noite das bruxas. Faziam exercícios de ginástica para se manterem em forma, poliam a sua casca de modo a ficarem tão brilhantes para competirem com a luz da lua, realçavam os seus veios para que pudessem sobressair, penteavam as suas hastes dando-lhes formas originais e tudo isto no meio de um grande reboliço. E os pais começaram a aparecer com os seus filhos que, alegre e ruidosamente corriam entre as inúmeras abóboras escolhendo aquelas que mais gostavam. As abóboras tentavam chamar a atenção dos meninos, tentando saltar e fazendo reflectir sobre elas os raios de sol que lhes ajudavam a brilhar ainda mais. A euforia pairava no ar, a confusão estava instalada. As abóboras competiam alegremente e ruidosamente umas com as outras. Todas, excepto aquela a quem as outras abóboras chamavam de abobrinha de tão pequenina que era. Ela bem se tinha alimentado, ela bem se tinha exercitado, ela bem se tinha esforçado, mas quis a natureza que ficasse assim. Bonitinha, redondinha, mas pequenina. E as crianças iam saltando por cima dela sem lhe prestar a mínima atenção agarrando nas maiores abóboras que encontravam. E a abobrinha no seu cantinho, muito tristonha, ia ficando cada vez mais sozinha, vendo as suas companheiras a serem levadas. Ela nunca iria saber qual a sensação de lhe cortarem o seu chapéu, de lhe retirarem o seu interior para fazerem deliciosos doces. Nunca iria ter uns olhos, um nariz e uma boca sorridente, nunca seria aquecida pela chama de uma vela, iluminando uma casa em festa. As suas pevides não seriam lançadas à terra fazendo crescer uma abobrinha igual a ela, a sua casca não ficaria para a eternidade, mas acabaria os seus dias dentro de um caixote de lixo. Estava ela perdida nestes pensamentos tão tristes, quando de repente, como por magia, sentiu sobre a sua casca, umas pequenas mãos que a afagavam. Era o menino mais pequenino que alguma vez ela vira, e que a escolhera a ela exactamente por ser tão pequenina. A abobrinha sentiu a alegria a inundá-la e a emoção a crescer. Foi ao colo do menino que a segurava cuidadosamente e foi a abóbora mais alegre e mais bonita naquela noite das bruxas.

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